terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Economia brasileira cresce, mas retrocede

A economia do Brasil se destaca como uma das que mais crescem no ocidente, mas o país vive o momento como um doente sem acesso fácil a medicamentos.

A desindustrialização cristalizou em uma ameaça concreta de retrocesso e não vê saída no curto prazo. Esta tendência se reflete no comércio exterior. A China se converteu no principal sócio do Brasil, com uma balança onde a nação asiática importa quase exclusivamente produtos primários e exporta manufaturas.



Os Estados Unidos, que perderam o primeiro lugar, compram mais produtos industriais, inclusive porque os dois países são competidores no setor agrícola. No intercâmbio com a China há um crescente superávit brasileiro, que alcançou US$ 5,107 bilhões nos dez primeiros meses do ano. Quanto aos Estados Unidos, a balança se inverteu desde 2009, após o superávit recorde de US$ 9,867 bilhões em 2006, e no período janeiro-outubro o déficit somou US$ 6,813 bilhões.


Ainda assim, vários indicadores servem aos que diminuem a gravidade da acelerada perda de peso relativo da indústria de transformação no produto interno bruto. A economia cresceu mais de 7% este ano e as exportações de janeiro a novembro aumentaram 30,7%, em relação a igual período de 2009. Mas as importações aumentam em ritmo muito mais rápido, de 43,9% neste ano, em uma tendência sustentada desde 2007.


Um ano antes, o Brasil registrou superávit comercial de US$ 46,077 bilhões, que diminui ano a ano desde então. Até novembro, o saldo favorável somava US$ 14,933 bilhões. O superávit se mantém, além disso, por produtos primários, agrícolas e mineração. A indústria de transformação tem uma balança negativa, que neste ano chegará a cerca de US$ 35 bilhões, para multiplicar por cinco em dois anos, destacou à IPS Rogério Souza, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial.


Em 2009, o setor foi o que sofreu mais intensamente no Brasil a crise financeira global surgida um ano antes e seu produto retrocedeu em 7%. Após uma recuperação iniciada este ano, houve uma queda no segundo trimestre e uma paralisação nos meses seguintes, o que ativou o alerta vermelho entre os empresários. A produção industrial paralisou dentro de uma economia de forte crescimento. Isto agrava a queda de sua participação no PIB, que já é 6% inferior à de 1970, quando o Brasil vivia um nascente processo de industrialização e exportava principalmente café, disse Rogério.


Todo o setor rendeu 25,4% do PIB em 2009 e a indústria de transformação representou apenas 15,5% dentro desse total. Enquanto isso, os serviços subiram para 68,5% do PIB. Este enorme predomínio do setor terciário é normal em países de alta renda, não no Brasil, onde "consolidar a indústria ainda é necessário para elevar a renda", que ainda está em um nível médio, afirmou o economista.


Para Rogério, esta mudança é "o fator mais evidente" atualmente e afeta a competitividade da indústria brasileira, provocando uma "avalanche de importações" que supera o nível justificável pelo auge econômico brasileiro. A isso somam-se outros fatores de velha data, como a insuficiente infraestrutura logística, o elevado custo do dinheiro, a enorme carga tributária e o alto preço da energia, que encarecem a produção industrial brasileira. Estes custos exigiram longo tempo para sua redução, por isso é uma emergência atuar sobre o cambio.


Com o yuan chinês muito depreciado e o real supervalorizado em 42% com relação ao dólar, competir se torna impossível, já que ninguém conseguiria reduzir seus custos à metade, argumentou, no dia 30 de novembro, Paulo Francini, diretor de Pesquisas da Federação das Indústrias de São Paulo. Na ocasião, foi lançado um estudo que revela a crescente substituição de insumos e produtos nacionais por importados nas fábricas do coração industrial brasileiro. O governo central deve usar todos os instrumentos em seu poder para conter a supervalorização do real, incluída a restrição da entrada de capitais especulativos, atraídos pelas altas taxas de juros brasileiras, disse Rogério.


Outro exemplo da situação é o da indústria têxtil, que tinha saldos favoráveis entre US$ 400 milhões e US$ 500 milhões, há cinco ou seis anos. Em 2010, no entanto, projeta-se um déficit de US$ 3,5 bilhões com importações de US$ 5 bilhões, disse Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil. O setor redobra esforços, com elevados investimentos em novos equipamentos e tecnologia, mas são muitos fatores adversos, como impostos e juros altos, má infraestrutura e escassa inovação tecnológica, assegurou Fernando. "O câmbio deixa tudo mais dramático, não estaríamos vivos se não fôssemos criativos", ressaltou.


A indústria têxtil cresce no Brasil, incluindo o setor da confecção, mas o faz em ritmo inferior ao geral da economia por causa da "torrente de importações" que tira uma grande parte da expansão do mercado interno, queixou-se o líder empresarial. Para Fernando, a indústria brasileira sofre pelo que acontece no país, mais "o que fazem fora", como manipulação cambial, taxas de juros zero e subsídios, o que a seu ver configura uma competição "ilegítima".


O mundo vive "uma guerra por empregos" e a indústria têxtil, com alta capacidade em gerá-los, sofre mais diretamente a batalha, acrescentou Fernando, lembrando que no Brasil cerca de oito milhões de pessoas obtêm sua renda do setor têxtil, se aos 1,7 milhão de empregos diretos somarmos os indiretos e dependentes da atividade.


No Brasil os contratos de trabalho são rígidos e uniformes em todo o país, sem reduções tributárias para setores de uso intensivo de mão-de-obra, ao contrário de outros países, o que diminui a competitividade da indústria têxtil brasileira, lamentou. Um estudo da Confederação Nacional da Indústria, divulgado na semana passada, mostra que o salário brasileiro (somando salário, previdência social e outros benefícios trabalhistas) equivale a quatro vezes o da China e dez vezes o da Índia.


Fonte: Diário Liberdade (http://www.diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=article&id=9572:economia-brasileira-cresce-mas-retrocede&catid=58:laboraleconomia&Itemid=69)


Justificar

A autodeterminação, um direito ou um dever?

Som Vilafranca - [Llorenç Casanova] O enfoque e aproximação actual verso a questão da independência (já seja do povo catalão ou doutros) fez-se principalmente desde a visão dos direitos das pessoas ou dos povos (portanto, nalguns casos desde uma aproximação mais individualista e noutros mais coletivista). Esta demanda tem-se canalizado ultimamente na assunção do direito de autodeterminação dos povos (tal como fica recolhido pela ONU desde há mais de 50 anos). O mecanismo para fazer possível este direito (amplamente reconhecido, mas poucas vezes praticado, como um exemplo mais das contradições implícitas dos estados modernos actuais) varia em função da aproximação ideológica desde a qual se fizer: nalgumas ocasiões através dum referendo ou consulta popular, noutros, por declarações unilaterais de independência e noutros utilizam-se eufemismos ou ambigüidades de caráter autonomista ou federalista para evitar reconhecer este direito.

Seja como for, e de forma compartilhada, fica claro que o exercício do reconhecimento deste direito é basicamente uma demanda democrática essencial, já que a liberdade individual e colectiva fica estreitamente ligada ao direito a decidir o futuro dum mesmo. A negação deste direito é portanto, uma negação dos princípios fundamentais da democracia, que como por todos é sabido, é uma prática constante do Estado espanhol, no seu desejo recorrente de evitar qualquer tentativa de fragmentação da invenção oitocentista da "nación española", e que a pesar da prática fascista de aniquilação cultural de todo o que não seja espanhol nunca conseguiu qualhar entre a população.

Porém faria falta apartir de agora, darmos um passo para a frente, mais quando a questão da independência está presente na agenda política catalã. Os representantes políticos, já for a nível local, autonómico ou estatal, que se autodefinem como democratas (isto é, todos, ao menos de cara ao público geral) teriam de assumir como dever inalienável a defesa do direito de autodeterminação dos povos (sejam de onde forem) que o desejarem. Esta assunção não implica necessariamente ser independentista, senão simplesmente reconhecer um direito democrático. Muitas vezes escutámos em boca dos representantes políticos que o seu "dever" é defender a democracia, atuar pelo seu bem; mas este por desgraça se reduz exclusivamente ao âmbito constitucionalista espanhol (o mesmo por certo, que ameaça com o emprego das forças armadas se a unidade da "nación española" se ver em perigo) e portanto, perdem-se pelo caminho, elementos básicos que definem o que é uma democracia e o que não o é. Chegamos, pois, à altura na qual nos temos de perguntar: é democrata aquele que nega o direito de autodeterminação dos povos? É democrata aquele/a que nega um direito básico da democracia? Não é um símbolo de autoritarismo a negação deste direito?

Ao meu entender é muito claro: o grau de democracia é directamente proporcional à assunção dos seus princípios básicos, entre os quais não podemos esquecer as liberdades colectivas como a independência dos povos. Assim, pois, a quantos dos "nossos" representantes políticos podemos tirar a "máscara democrata"?

Llorenç Casanova é vereador da CUP na prefeitura de Vilafranca

Fonte: Diário Liberdade (http://www.diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=category&id=58:laboraleconomia&layout=blog&Itemid=69)